Nuno Mata lança livro sobre “Alberto Martins de Carvalho – o Homem, o Autor, a Biblioteca”

No dia em que a Biblioteca Alberto Martins de Carvalho completou o seu 5.º aniversário foi lançado o livro em memória do seu patrono “Alberto Martins de Carvalho – o Homem, o Autor, a Biblioteca”, da autoria de Nuno Mata.
Conforme explicou o autor, esta biografia, iniciada em Dezembro de 2005, foi elaborada “com dois propósitos nucleares: trazer ao conhecimento a sua personalidade e justificar, assim, a atribuição do seu nome a esta casa que foi sempre espaço de conhecimento e pedagogia”.
Natural de Barril de Alva, Alberto Martins de Carvalho, nasceu a 30 de Dezembro de 1901, era filho da cojense Laura Tavares Sinde e de José Martins de Carvalho de Barril de Alva. Casou-se, em 1929, com Judite Candosa Sinde, de Coja.
Licenciado em Direito e em Ciências Filosóficas na Universidade de Coimbra, foi um “aluno brilhante (…) na década de 20 do século passado” e foi “autor de muitos artigos – destacando-se a sua colaboração no Guia de Portugal e no Dicionário de História (dirigido por Joel Serrão) – e comentários, de obras de tradução e de anotações, entre outras, para além da participação desde a primeira hora em proeminentes Revistas literárias, como foram os casos da Presença, Vanguarda, Bysancio, Revista de Portugal, Manifesto e da Palestra”, esclareceu Nuno Mata durante o discurso de apresentação, acrescentando que Martins de Carvalho também teve um papel importante “enquanto pedagogo, primeiro na Escola Normal Superior de Coimbra e, posteriormente, no Liceu Central de Coimbra, hoje Escola Secundária José Falcão”.

“O que conhecemos é uma gota, o que desconhecemos é um Oceano!”
Isaac Newton

Não foi só na escrita ou na pedagogia que se destacou o Homem, “que também assinava como Carlos Sinde”, Martins de Carvalho teve um papel “fundamental na criação, em 23 de Julho de 1965, da Biblioteca Fixa n.º95 da Fundação Calouste Gulbenkian”, motivo pelo qual há 5 anos, quando a Biblioteca foi inaugurada lhe foi atribuído o seu nome.
Facto pelo qual se divide este trabalho “em duas partes nucleares que, por força da organização do livro, resultam em três: a vida de Alberto Martins de Carvalho, o seu legado enquanto autor e a História do serviço de Biblioteca em Coja. Daí o título deste trabalho”, frisou Nuno Mata.
E é com a expressão de Isaac Newton, “o que conhecemos é uma gota, o que desconhecemos é um Oceano”, que o autor abre as páginas do livro e explica o propósito deste trabalho, apelando para “que este trabalho nunca sirva, portanto, de trampolim para que alguém possa fazer algo que não seja o desejo anteriormente enunciado”, que se baseia na elevação da “sua acção enquanto pedagogo, homem de cultura, ideias, ideais e princípios”.

Alberto Martins de Carvalho “era um professor bisonho”
Luís Reis Torgal

Presente no lançamento do livro, na palestra e na exposição documental sobre o patrono da Biblioteca de Coja, que a Câmara Municipal integrou no programa das festas do concelho, Luís Reis Torgal, professor catedrático da Universidade de Coimbra, coordenador científico do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra, e autor de artigos sobre o Estado Novo, entre outros, falou nesta “justa homenagem” na qualidade de aluno de Martins de Carvalho.
Na sua opinião ele “era um professor bisonho que nunca se ria, nunca sabíamos para que lado estava a olhar porque usava óculos escuros (…). Nós entrávamos naquela sala de aula como se entra numa igreja, sem nos rirmos”, recordou Luís Reis Torgal.
Hoje, reconhece que o amor que tem pelo livro e pela biblioteca deve-se ao professor, desabafando que “para mim a história com o doutor Alberto Martins de Carvalho não era apenas uma solução, era um problema”.

“Só quem não quiser não saberá quem foi e o que foi”
Nuno Mata

E é com saudade e satisfação que recorda o último encontro com o professor que o influenciou a seguir história em detrimento de filosofia, “foi em 1989, eu dediquei-lhe um livro chamado “História e Ideologia” que tem uma dedicatória «ao doutor Alberto Martins de Carvalho e ao professor Silva Dias que me ensinaram a ver a história como um problema». É esta a marca que eu guardo. Fui levar o livro ao doutor Alberto Martins de Carvalho à sua casa na Rua João Pinto Ribeiro, (…) nessa altura foi, talvez, das primeiras vezes que eu vi um sorriso no doutor Alberto Martins de Carvalho, portanto não sorria, não ria. Ele sorriu e falou muito carinhosamente na mulher, lembro-me sempre disso, e de uma neta, que foi minha aluna, falou-me com um grande carinho que nunca mais esqueci. Por trás daquela carapaça havia uma alma sensível”, relembrou Luís Reis Torgal.
Como se atreveu a dizer Nuno Mata “depois de hoje, só quem não quiser não saberá quem foi e o que foi”, deixando o repto à autarquia “para que, com a urgência possível, diligencie no sentido de reproduzir em quadro a sua fotografia, para que todos o reconheçam”, concluiu.
Cristina Correia Pinto
In A Comarca de Arganil

Comentários

Gostaria de indicar o texto de Nuno Mata sobre a Europa no blog Revista Lusofonia: http://revistalusofonia.wordpress.com/2009/08/18/a-europa-marcou-passo-mais-uma-vez/

Abraços.
Fabíola
Joaquim Nogueira disse…
Eu só desejava dizer que o meu ilustre e sempre recordado professor de Filosofia Dr Martins de Carvalho me deu aulas no então Liceu Normal de D. João III,(anos 50) liceu que primeiro se chamou Júlio Henriques e só depois passou a José Falcão.
SRC disse…
Fui aluno do Dr. Martins de Carvalho no então Liceu Normal D. João III, na disciplina de História, na década de 70 passada, tendo ele sido aposentado, salvo erro, em 1971, exactamente no 2.o ano em que foi meu professor. Um homem erudito, austero, que intimidava um pouco os jovens, mas que não era repressivo. Muito perspicaz. Em 1970 ele era director da biblioteca do liceu, cuja direcção era preenchida com alunos. Um dia, ele anunciou que era necessário renovar a mesma e perguntou quem estava interessado em participar. Imensa gente levantou o braço na turma. Eu fiquei a pensar durante uns momentos, quieto, pois queria estar certo do que iria fazer. Levantei, por fim, o braço. Após uns bons 2 ou 3 minutos de silêncio, ele escolheu-me. Tive oportunidade, então, de trabalhar sob a sua direcção na biblioteca. Foi uma excelente experiência. Rigoroso, mas não rigorista, exigente, mas sem arbítrio, orientava e ensinava nas reuniões que com ele e os meus colegas foram realizadas. Contribuiu para o meu gosto pela cultura.

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