Apicultor por desporto

Água, glicose, frutose, açúcares e outras substâncias podem não dizer nada ao comum dos mortais, mas certamente para um apicultor isto tudo só tem um significado possível… mel.
Característico da nossa região, o mel silvestre é feito a partir de substâncias recolhidas “de todas as flores e plantas”, conforme nos explica António Nunes Esteves, produtor de mel, de 77 anos de idade, residente em Tábua.
Detentor de cerca de 40 colmeias, distribuídas pela Mealhada, Tábua e Ázere diz-nos que o que distingue o mel é a cor, o paladar, o aroma e a textura e, que “para se ter mel dá muito trabalho. É um desporto muito caro”, porque “é preciso andar sempre em cima das abelhas para evitar as doenças e as pragas”, salienta.
Uma actividade que começou por ser uma brincadeira, porque segundo o próprio “a gente começa tudo por uma brincadeira e, depois vai apanhando o gosto. Eu apanhei o gosto pelas abelhas. Havia pessoas amigas que tinham mel, eu ia ajudá-las e, assim começou”, confessa afirmando que “não tenho queda para a pesca, para a caça e dediquei-me ao mel. É o meu desporto, não tenho vícios nenhuns, tenho as abelhas”.
Contudo, para suportar este desporto, “só nos é dado um subsídio de desinfecção pela apicultura”, revela António Esteves, apicultor registado na direcção geral de veterinária, que esclarece que o mel produzido é para as pessoas amigas e para consumo directo.

“Cheguei a vender 2 mil litros de petróleo por mês”

Mas, a vida deste homem, à semelhança de tantas outras, não foi sempre doce como o mel. Por vezes, o sabor a fel invadiu-lhe a vida.
Uma história de vida que podia ser mais uma das muitas histórias do homem dos sete ofícios, tendo em conta que, com a quarta classe, trabalhou em Lisboa até aos 15 anos numa “casa que fornecia os utensílios para as padarias, depois passei para Tábua e fui para a firma António Júlio da Fonseca, até aos 18 anos a ganhar 12 escudos por dia”. Mais tarde, foi trabalhar na cerâmica tabuense como “afiador de lâminas. No primeiro mês ganhava 18 escudos, no segundo comecei a ganhar 22”, relembra.
Em 1958, emigrou para a Golega, no Ribatejo, e, com a alcunha Petrolino, andava com “uma carroça a vender petróleo, lixívia, sabão… tudo o que era de limpeza. Depois, fui para Alcanena, ainda hoje se lá for me estimam bem. Tirei a carta em 66, a vida começou a melhorar e comprei um carro para substituir a carroça”. Passados dezasseis anos, regressou a Tábua e foi “um dos fundadores da Tabuarte – indústria de estofos – e foi aí que me aguentei. Fui eu que aguentei o edifício que lá está da Tabuarte”.
Na Tabuarte as coisas não correram muito bem, porque “éramos muito sócios e aquilo não começou a andar bem e, então, eu retirei-me e empreguei-me outra vez e aguentei-me até me reformar”, confessa.

Fundador do desporto nos Bombeiros e campeão no Tabuense

O Rancho da casa do Povo e o Carnaval em Tábua, também conheceram o seu empenho e esforço, mas é com tristeza que diz que o Carnaval acabou, porque “as pessoas são pouco competitivas, quer dizer importam-se só com elas e não dão nada a ninguém. De maneira que, nós éramos sempre os mesmos e cansa. E como cansou entregámos a outra Comissão, que não chegou a organizar Carnaval nenhum”.
Fez parte do corpo activo dos Bombeiros Voluntários de Tábua e foi “o fundador do desporto nos Bombeiros”. Quando veio para Tábua, entrou na direcção do Tabuense e, foi campeão de iniciados e juvenis e, a partir daí esteve sempre ligado, até aqui há cerca de 3 anos. “Tivemos uma prova de atletismo que foi um sucesso. Juntámos lá muitos atletas nos anos 70/80”, conta frisando que se “dedicava mais aos jovens”.
A respeito dos quais fala com satisfação, porque “felizmente estão a aparecer, mas tivemos aqui um tempo em que os jovens desapareceram. Talvez, se infiltrassem naqueles bares nocturnos”, justifica salientando que “ faço um apelo aos jovens para que façam renascer o Carnaval, era uma coisa inesquecível em Tábua, já tinha raízes e, gostava de não morrer antes de ver o Carnaval outra vez”, termina.
Cristina Correia Pinto
In A Comarca de Arganil

Comentários

Anónimo disse…
passo a citar:
"Passados dezasseis anos, regressou a Tábua e foi “um dos fundadores da Tabuarte – indústria de estofos – e foi aí que me aguentei. Fui eu que aguentei o edifício que lá está da Tabuarte”.
Na Tabuarte as coisas não correram muito bem, porque “éramos muito sócios e aquilo não começou a andar bem e, então, eu retirei-me e empreguei-me outra vez e aguentei-me até me reformar”, confessa."

Mas que raio de história é esta? foi ele que aguentou em pé o edifício???? por favor.... cada um conta a sua história, não há direito de mancharem o nome das outras pessoas

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