95 anos de uma vida talhada pela simplicidade
Nascida em Folques a 12 de Março de 1912, Lúcia Ventura é franca ao dizer que não sabe qual é o segredo para se chegar aos 95 anos de idade.
Provavelmente por dom de Deus ou por outro motivo qualquer, Lúcia é uma mulher alegre na sua maneira de estar, simples na forma como se exprime e invejável na arte de articular as ideias.
Provavelmente por dom de Deus ou por outro motivo qualquer, Lúcia é uma mulher alegre na sua maneira de estar, simples na forma como se exprime e invejável na arte de articular as ideias.
“Lembro-me de ser gente desde os 7 e, dos 7 aos 95 há muito que dizer”, explica-nos Lúcia Ventura argumentando que falar da sua vida “não é fácil”, porque como confessou há muito para dizer e inúmeras vivências para recordar. Motivo pelo qual nos alinhavou alguns dos momentos mais significativos da sua vida até aos dias de hoje.
Apaixonada pela costura. A nossa conversa decorreu na sala de trabalhos manuais, do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Arganil, debaixo de um ambiente acolhedor pautado pelas interrupções alegres e carinhosas daqueles que com ela partilham as histórias, os momentos e os saberes do dia-a-dia.
Os amigos aproximavam-se e davam-lhe os Parabéns, felizes por a terem ali sempre tão presente com aquele sorriso puro e aquele olhar acolhedor. “Eu já cá estou há 19 anos. Sou muito estimada aqui. Há um ou outro que é mais rabeto, mais atrevidito, mas a gente dá-lhe para trás”, contava-nos enquanto lhe diziam que “estava mesmo muito bonita”.
“Eu saí à minha mãe a cantar”, confessa-nos dizendo que ainda hoje se ri, “por que ainda me lembro dos meus gestos a tentar imitar a minha mãe”. Mas, não foi só a cantar que saiu à mãe, a costura foi outras das artes que herdou e da qual fez arma de guerra, para travar as lutas diárias.
“Sempre tive inclinações para a costura. Fui para a escola aos 7 anos. Não cheguei a fazer a quarta classe, porque a professora punha-me uns problemas que não entendia. Depois vinha para casa a chorar. Depois, queria contar por os dedos e a senhora não deixava”, recorda-nos.
Aos 8 anos a mãe meteu-a na costura, mas foi aos 18 anos quando foi para casa dos primos Lúcia e José Batista Ferreira, em Chamusca do Ribatejo, onde aprendeu a bordar à mão. Mais tarde casou-se em Folques, onde ficou a viver. Diz-nos que teve dois maridos e por quem “fui sempre muito estimada”. Não teve filhos, mas fala-nos de António César Quaresma Ventura, um antigo jornalista de A Comarca de Arganil, por quem nutre um grande apreço.
A ganhar 5 tostões por dia, trabalhou em Folques em casa da mestre, onde aprendeu a “remendar um lençol, a concertar umas calças”, entre tantas outras peças de roupa. “Trabalhávamos por conta da mestre. De vez em quando a senhora dispensava-me, durante uma semana, para ir fazer o enxoval de um bebé. Fazia de tudo”, frisa.
Quando questionada sobre que conselhos dá aos jovens é rápida a responder: “eles não precisam dos conselhos, porque ainda sabem mais do que eu”, remata.
O que é certo é que Lúcia Ventura tem sem dúvida nenhuma uma vida cheia de histórias para contar. Mas à semelhança do que sublinhou no início da nossa conversa, “nem sei ao certo que dizer”, porque está tudo estampado no seu olhar e na sua forma simples de estar.
Cristina Correia Pinto
In A Comarca de Arganil
Apaixonada pela costura. A nossa conversa decorreu na sala de trabalhos manuais, do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Arganil, debaixo de um ambiente acolhedor pautado pelas interrupções alegres e carinhosas daqueles que com ela partilham as histórias, os momentos e os saberes do dia-a-dia.
Os amigos aproximavam-se e davam-lhe os Parabéns, felizes por a terem ali sempre tão presente com aquele sorriso puro e aquele olhar acolhedor. “Eu já cá estou há 19 anos. Sou muito estimada aqui. Há um ou outro que é mais rabeto, mais atrevidito, mas a gente dá-lhe para trás”, contava-nos enquanto lhe diziam que “estava mesmo muito bonita”.
“Eu saí à minha mãe a cantar”, confessa-nos dizendo que ainda hoje se ri, “por que ainda me lembro dos meus gestos a tentar imitar a minha mãe”. Mas, não foi só a cantar que saiu à mãe, a costura foi outras das artes que herdou e da qual fez arma de guerra, para travar as lutas diárias.
“Sempre tive inclinações para a costura. Fui para a escola aos 7 anos. Não cheguei a fazer a quarta classe, porque a professora punha-me uns problemas que não entendia. Depois vinha para casa a chorar. Depois, queria contar por os dedos e a senhora não deixava”, recorda-nos.
Aos 8 anos a mãe meteu-a na costura, mas foi aos 18 anos quando foi para casa dos primos Lúcia e José Batista Ferreira, em Chamusca do Ribatejo, onde aprendeu a bordar à mão. Mais tarde casou-se em Folques, onde ficou a viver. Diz-nos que teve dois maridos e por quem “fui sempre muito estimada”. Não teve filhos, mas fala-nos de António César Quaresma Ventura, um antigo jornalista de A Comarca de Arganil, por quem nutre um grande apreço.
A ganhar 5 tostões por dia, trabalhou em Folques em casa da mestre, onde aprendeu a “remendar um lençol, a concertar umas calças”, entre tantas outras peças de roupa. “Trabalhávamos por conta da mestre. De vez em quando a senhora dispensava-me, durante uma semana, para ir fazer o enxoval de um bebé. Fazia de tudo”, frisa.
Quando questionada sobre que conselhos dá aos jovens é rápida a responder: “eles não precisam dos conselhos, porque ainda sabem mais do que eu”, remata.
O que é certo é que Lúcia Ventura tem sem dúvida nenhuma uma vida cheia de histórias para contar. Mas à semelhança do que sublinhou no início da nossa conversa, “nem sei ao certo que dizer”, porque está tudo estampado no seu olhar e na sua forma simples de estar.
Cristina Correia Pinto
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