Babet......a poetisa “profundamente religiosa”

Ser poeta é viver intensamente
Cada dia e, cada hora que passamos...
Ilusões d'alma perdendo finalmente
Quando, em lugar de cantar, nós choramos!!
Resivida, 10/VII/2007
Babet

Dom de família, sentimentos que se desejam possuir ou simplesmente um mistério da alma são algumas das explicações que Hilda Babet nos dá para melhor entendermos o que é Ser Poeta. “Sou acima de tudo muito religiosa e, como profundamente religiosa diz a palavra de Deus: aquilo que temos no coração é aquilo que nos vem à boca”, adianta revelando que escrever “é um encontro com Deus, contínuo... A escrita é uma fuga, entretem-me, mantém o meu cérebro em actividade”.
Como mulher e poetisa passa os dias a escrever ou a pintar. “Escrevo muito. Tenho dias de escrever o dia inteiro. Agora, estou a perder um bocadinho o fôlego”, conta justificando que pinta aquilo que “vem à ideia, na altura”. “Gosto muito de pintar paisagens e flores. Tenho uma obra enorme”, enaltece a autora do livro “Laços de Amor e de Fé”.

Quadras singelas
Como é bela a Natureza
Pela mão do criador!
Tudo é bondade e pureza
Pois Deus é amor!!
Babet

Com uma vida preenchida pela poesia e pela pintura, a artista confessa que gosta “muito de escrever. Tenho pena é de já não ter grandes forças. Muitas vezes vou para a cama e, imagino e já não durmo, porque a fonte de inspiração que tenho cá dentro não tem fim. É infinita. Quanto mais escrevo, mais vontade tenho de escrever. Escrevo muito mesmo. Escrevo, pinto e... passo assim”, explica salientando que gosta “muito de desenhar”. “Era capaz de passar um dia inteiro a desenhar. Não posso é fazer tudo. Uma coisa ou outra”.

Ser poeta

Ser poeta é voar muito alto! Enfim...
É, ver um poema em cada rosa!
É ser doce, terra e generosa
Sentimentos que desejo ter em mim!

Ser poeta é ter vida aparte, pensando assim...
Tudo misterioso d'alma, vida ansiosa!
No coração sonhos belos cor-de-rosa,
E as mãos brincando com as flores, no jardim!

Ser poeta é andar à chuva e ao vento...
Pintando d'azul o firmamento
Ter doçura em nosso olhar disperso...

Ser poeta é ter vontade de cantar
Querendo viver, esquecer e chorar
na linha simples de um só verso”
Vila Pouca, 2003
Babet


Aos 88 anos de vida possui uma enorme força interior e lembra que tem sido uma pessoa “muito doente”. “Tenho vencido as minhas doenças todas, os males que me têm atordoado e, que me têm feito sofrer”. O segredo para sobreviver é a sua vida interior que caracteriza de “muito intensa”, até porque segundo a própria “os poetas, geralmente, têm uma vida interior intensa”.
Enquanto, poetisa partilha que tem muitos poemas que falam das suas revoltas, “principalmente, contra a idolatria. É uma das coisas que me revolta muito e, outra coisa que, também, me revolta muito é a injustiça”.

Quem sou eu?

Um dia o vento
Passando por mim
Me derrubou
E me perguntou:
“Quem és tu?”
Ao chão lançada
Estonteada
Nada respondi...
Outra vez tremi
Enquanto o vento sibilava
E novamente me perguntava:
“Quem és tu?”
Quem sou eu?
Pensando bem
Eu, não sou ninguém!...
Resivida, 25/IV/07
Babet

Através da arte e na tentativa de ter conhecimento das suas necessidades, Babet pede a Deus que a faça boa, paciente, corajosa, fiel e justa. “Que eu não sou nada disso, nem sou boa, nem sou paciente, nem sou corajosa, nem sou fiel, nem sou justa, nem sou nada. Cheguei à conclusão que não sou absolutamente nada”.
Com raízes em Vila Pouca, há 3 anos que está em Santa Comba Dão, o seu tempo é passado entre a casa da filha e a Resivida – Residência Gerontológica, das Pedras Negras, onde aproveita o tempo para deixar a sua fonte de inspiração saciar a sua vontade de estar em comunhão com Deus.
Em tempos “devorava Camões. Ainda hoje sei alguns sonetos de Camões”, afirma acrescentando que tem um gosto especial pela obra de Florbela Espanca. Talvez, para compreendermos que este é um dom de família remata que o poeta António Correia de Oliveira era primo direito de seu pai.
O que é inegável é que para quem sempre escreveu “desde muito pequena” , “ser poeta é viver intensamente/Cada dia e, cada hora que passamos.../Ilusões d'alma perdendo finalmente/Quando, em lugar de cantar, nós choramos!!”.

Cristina Correia Pinto
O Tabuense

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