Tu simbolizas tanta gente…

tanta gente importante que a morte está a arrancar da minha vida…
Em passos lentos subo as escadas, por ironia do destino, as mesmas que sempre subi a correr para te ir ver… agarro-me ao corrimão, o mesmo que desci de escorrega e onde me pendurava com o máximo cuidado para não me ouvires a fazer asneiras.
Em cada degrau detenho-me e dou por mim a ter uma crise de saudosismo, que tu de certeza que a ias apelidar de infantilidade, de mimo, mas mesmo assim não me detenho e vou mais longe numa tentativa de acalmar o meu coração e…
Encontro parte do álbum de memórias que partilhaste comigo, o mesmo que construímos em conjunto, que eu contínuo a encher e que um dia terá uma edição praticamente irreconhecível.
Que sensação estranha, como é que é possível agora mais do que nunca cada pedaço tão curto tem uma longa história, com vários actores, várias cores, várias sensações, com inúmeras perguntas e apenas uma resposta para a sua existência… tu e eu!
Revivo alguns momentos com uma nitidez única, mas… outros são meros flashes que passam em slow motion com um zoom acima do normal.
Procuro destacar alguns momentos das imagens que a minha memória me apresenta, através de um caleidoscópio intemporal.
Quando dou por mim, estou a passear pelo corredor, um passeio pequeno, silencioso, sem peso, sem preocupações, apenas caminhar…
Olho-te nos olhos e lembro-me dos momentos de infância… perco-me completamente por entre imagens e sensações em que eras tu que me davas colo, que me protegias, enfim… que cuidavas de mim.
Tudo parecia tão fácil… como nas estórias que me contavas que, quase sempre, terminavam com um viviam felizes para sempre.
Que estranho! Sinto-me a sufocar…queria chorar no teu colo, chorar por birra, por uma qualquer birra infantil.
Mas… quando estou contigo dás-me forças, fazes-me acreditar que estás a renascer e isto é apenas mais… uma indisposição, uma maleita passageira.
Procuro-me lembrar da maneira como me aconchegavas quando eu mais precisava e… em vão… faço um esforço para deter o grito do coração, a voz da revolta, as lágrimas traiçoeiras.
Mas… tu notas, sentes o esforço que eu faço, apesar de o esconderes, de te deixares levar pelo momento…

Abraças-me com o olhar, agarras-me a mão… num momento tão nosso transmitimos tudo aquilo que sentimos, que queremos deixar bem presente, até…
Sinto-me perdida, sem forças, mesmo estando farta de saber que a morte faz parte da vida.


Cristina Correia Pinto

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