Zé do Nada finalmente aprendeu que é Tudo

Zé do Nada é um habitante do planeta terra que diz que tem a idade suficiente para aprender com todos os Sábios Mestres que no seu caminho se cruzam. Para si o mais importante é a palavra oral, embora no mundo actual essa pouco valor tenha, nomeadamente, quando se tratam de questões jurídicas.

Apenas pautado pela justiça que deveria existir, foi num lugar comum que conversámos, ao sabor do vento, movidos pela palavra oral e por aquilo que o coração, juntamente com a razão, ia trazendo.
Zé do Nada confessa que toda a acção deste episódio da sua vida poderia ter sido passado na fábrica onde trabalha aquele vizinho lá do bairro, contudo esse pormenor não é de todo o mais importante, pois "infelizmente ou felizmente há muita gente a passar por esta situação todos os dias".
"Sabe menina, quando precisamos de trabalho e quando sabem que até temos algum valor e ideias está sempre tudo bem", desabafa explicando que fora-lhe prometido que fosse trabalhar para a Quinta de Algo, a 15 km de casa, que iria ter transporte para se deslocar, sempre que precisasse de ir em trabalho, bem como iria ter acesso ao telefone para estabelecer contactos.
"Eu como estou habituado a ajudar e a fazer aquilo que sei com gosto, aceitei logo e comecei a trabalhar antes de ter o contrato assinado. Veja bem, cara jovem, o erro que eu fiz, segundo o que está estabelecido na Lei, tive sorte de passado oito dias me terem dado o contrato para assinar. Sabe, acredito que as pessoas são boas nem nunca me passou pela cabeça que aqueles dias podiam não me ter sido pagos e, eu ter ficado sem nada em troca do que tinha feito", conta.
Quando o contrato escrito não corresponde ao oral
Movido pelo impulso de poder contribuir para que a Quinta de Algo pudesse ser falada pelos bons produtos, Zé do Nada quando assinou o contrato verificou que existiam algumas coisas escritas que não tinham sido ditas verbalmente, pois faltava referir que tinha direito ao transporte e telefone.
"Questionei a minha patroa sobre essa falha, ela disse que não era necessário. Mais uma vez confiei naquele sorriso, naquela postura de gente séria, com conhecimento e, como eu sabia que a vida está má, até lhe disse: «Olhe, como me mandou cortar a relva e, eu vi que não tinha cá a máquina trouxe a minha, mas não se preocupe que até estou mais habituado a esta, só preciso mesmo é do restante material e do combustível para a pôr a trabalhar»", recorda Zé do Nada.
Feliz com tudo aquilo e com a possibilidade de subir na carreira, pois "se arranjasse pessoas que quisessem comprar alguns produtos o ordenado iria aumentar", Zé do Nada conseguiu rapidamente encontrar amigos que gostavam daquilo que era produzido na Quinta de Algo.
"Sempre que contava à patroa ela mudava de assunto e, parecia que não queria que a produção fosse boa", explica há procura de uma razão para tal atitude. "Entretanto, às vezes deslocava-me para a Quinta de Tudo, também propriedade da minha patroa, para fazer algum serviço", acrescenta contente por ajudar quem lhe tinha dado emprego.
Quanto mais trabalha mais recebe
"Sei que passado meio ano de contrato, disse à patroa que uma vez que as colheitas estavam a ser boas e que havia muito serviço, estava disposto a não gozar as férias a que tinha direito. Que alegria que dei, ela fina que nem um alho disse que apesar de a vida estar má que se arranjavam umas notas para pagar o meu serviço. Até falou à frente de uma moça que está a trabalhar na Quinta de Tudo".
Zé do Nada como sempre trabalhou afincadamente e, levou a última colheita de castanhas para a Quinta de Tudo, para aí se dar o devido destino aos produtos, como era hábito. "Senti um ambiente pesado, como se estivesse a mais. Nesse dia disseram a outro capataz para não aproveitar tudo, que não valia a pena. Eu nem questionei o meu colega, pois se teve ordens da patroa eu confiei e fiz o que nos era mandado", relembra com alguma mágoa.
Passado dois dias Zé do Nada regressa para ir buscar algumas encomendas e, questiona a patroa sobre as próximas colheitas. "Fiquei a saber que a Quinta de Algo ia fechar. Perguntei como ia ser o meu futuro. Ela [patroa] disse para eu tirar uns dias que depois falávamos", revela.
Inconformado com tal atitude, parou para reflectir e concluiu que andaram a gozar com ele e, a aproveitar-se do seu serviço. "Oh menina, é muito mau quando nos sentimos a mais, quando fazem jogo psicológico connosco. Andei mais de um mês até que me dessem uma solução. Para não me acusarem de ter abandonado o posto de trabalho, passei a ir todos os dias para a Quinta de Tudo, na espectativa de ter algo melhor e uma resposta", refere.
A mutação do Nada em Tudo
Localizada a cerca de 30 km de casa, Zé do Nada andava cansado com a viagem, pois tinha aceite o trabalho na Quinta de Algo porque era perto. Assim, tinha consciência de que não ia aguentar e, que com 560 euros de ordenado e um euro de subsídio de alimentação não dava para a despesa, pois os restaurantes levam 4 a 5 euros por dia.
"Fui sincero e disse à patroa que não aguentava a pressão psicológica, se me queriam despedir que o fizessem, mas que parassem de me magoar e que definissem de uma vez a minha situação por escrito. Ela com aquele ar de vítima referiu que ou ia para ali e mantinha-se só o contrato escrito, ou então que me despedia com tudo ao que eu tinha direito alegando que a Quinta de Algo tinha acabado", diz revoltado por andarem tanto tempo para lhe dizerem isso.
Aceite verbalmente a segunda hipótese, no dia seguinte estava Zé do Nada a tratar de uns grelos, quando foi despedido. "Zé do Nada está despedido, os advogados foram agora para a Cidade tratar de tudo. Se quiser eu levo-o a sua casa. Oh menina, nem o meu trabalho me deixou terminar", recorda explicando que pediu à patroa um documento escrito a explicar isso.
Passada uma declaração advogando que "Zé do Nada, trabalhador da "Quinta de Algo", estava desvinculado da empresa depois de gozar os dias de férias a que tinha direito", voltaram com a palavra atrás a dizer que Zé do Nada nunca tinha sido despedido e nem o subsídio de férias lhe pagaram.
"A única coisa que quero é que me passem o papel a dizer que estou desempregado para poder seguir com a minha vida. Digo-lhe, minha menina, graças a esta gente sei o Código de Trabalho e sei que a gente vê caras e não vê corações", conclui na esperança de ter tirado deste episódio as melhores lições, "sem ódio, nem rancor porque a patroa ensinou-me muito a mim, mas eu também lhe ensinei que as pessoas podem parecer parvas, mas a mim ninguém me põe mais os pés".
Cristina Correia Pinto

Comentários

JoaqCP disse…
Entrevista interessante; e a história é-me familiar!...
Anónimo disse…
Há apenas dois dias é que tomei conhecimento da história do Zé do Nada.
Em solidariedade redigi isto.
No entanto estimada Cristina peço-te para considerares se é "benéfico" o que escrevi, ou por outras palavras se não é prejudicial. Se entenderes apago e tu faz o mesmo a este comentário, ok?
Aquele abraço que também quero alargar ao amigo JoaqCP
Neves, AJ
Anónimo disse…
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