“malmequeres os lábios molhados” lançados na aurora da vida

Aos 16 anos de idade, Cláudia Borges, natural de Cabanas de Viriato, continua a dar passos firmes para atingir um patamar, segundo a crítica, muito alto na poesia. “malmequeres os lábios molhados” é o seu quarto livro de poesia apresentado ao público no passado domingo, 2, no salão da Filarmónica cabanense, editado pela Palimage e com nota de abertura de Mário Soares, ex-presidente da República.

Na sessão de lançamento, com leitura de poesia pelo grupo poético “Sarau dos Danados”, do qual a jovem poetisa faz parte, foi visível o prazer que o mais comum dos mortais tem em poder partilhar o dia-a-dia com Cláudia Borges, o membro mais jovem da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação Portuguesa de Poetas, dada a simplicidade e humildade com que guia o leitor através do seu mundo de menina e de poetisa, onde existe “um trabalho da palavra invulgar, um trabalho maduro e intenso à volta da metáfora, do ritmo, do vocabulário, da construção de imagens”, conforme caracteriza o poeta José Fanha, no prefácio de “malmequeres os lábios molhados”.
Com um longo caminho a percorrer, aos 16 anos de vida, Cláudia Borges “merece ser ouvida e divulgada”, conforme escreve José Fanha, no prefácio de “malmequeres os lábios molhados”.
Autora de Pegadas do meu ser, Acreditar em mim e Instinto, a jovem poetisa “percorreu um determinado caminho no sentido de uma poesia diferente daquela que, se calhar, muitos de nós estamos habituados a ver”, referiu Jorge Fragoso, “o feliz editor deste livro”, explicando que é um estilo diferente da poesia clássica, num sentido mais pró-surrealismo e experimentalista.
Alcídio Faustino, representante do Governo Civil de Viseu, enalteceu que Cláudia escreve desde os 13 anos de idade, mas a “vocação já lá estava antes”, discordando com a nota de abertura feita por Mário Soares, quando este afirma que a poetisa cabanense “é um exemplo de vocação literária precoce para as letras”.
“O que é precoce na Cláudia é esta desenvoltura nesta idade”, disse admirado Alcídio Faustino, na qualidade de professor de português, esclarecendo que o poeta “é o produto de um grande trabalho”.
Em termos institucionais o representante do Governo Civil deu, orgulhoso, os parabéns à poetisa, porque “é uma escritora do nosso distrito” e, em termos pessoais deixou claro que gostava que fosse sua aluna.

“A menina que escreve livros sente-se, hoje, profundamente realizada”
Cláudia Borges
Confessando que não se sente uma poetisa, uma escritora ou qualquer outra coisa que lhe possam chamar, “a menina que escreve livros sente-se, hoje, profundamente realizada”, afirmou Cláudia Borges justificando que se sente “um poema inacabado, solto ao vento, pronto a ser moldado pelas mãos do tempo”.
Entretanto, é a menina cabanense que, desde os nove anos, tem o dom de talhar, com os pés assentes na terra, as palavras de cada verso, que surge à tarde, na solidão do seu quarto, “depois da outra Cláudia viver o dia-a-dia”, deixando que a poetisa transporte “as emoções, os sentimentos para o papel”.
Um mundo que lhe permite conhecer “coisas espectaculares” e pessoas que nunca pensou conhecer. “Tenho feito vários progressos, tenho conhecido novos autores, tenho lido bastante, sou uma pessoa completamente realizada a todos os níveis”, conta.
Apoiada pelos pais, família e amigos revela que começou a ler a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, devendo-lhe o seu percurso até aqui. “Foi essencial a leitura dos livros dela”, esclarece adiantando que está a ler a poesia de Herberto Hélder, Ramos Rosa, com um estilo mais experimentalista e surrealista.
À semelhança do que sucedeu em livros anteriores, neste Cláudia Borges transporta o leitor para uma viagem que não precisa de ser explicada, basta ter a mente aberta e receptiva para apreender a mensagem inerente em cada verso de “malmequeres os lábios molhados”. Como dizia “o feliz editor” é preciso saber ler. “Este saber ler é deixar que as palavras penetrem em nós e nos digam qualquer coisa”, ensinou acrescentando que “quando lemos a poesia de Cláudia Borges quase nos comovemos até às lágrimas. São tão ricas as imagens, tão profundas as metáforas que nos sentimos tocados”.

“Sobretudo quero que as pessoas tropecem nas minhas palavras”
Cláudia Borges

Para a autora a sua poesia é “uma poesia que busca o sentimento, que pretende tocar bem no fundo as pessoas, que pretende que as pessoas se vejam nela, que sintam as metáforas e o que as palavras querem dizer”, define desvendado que o seu maior objectivo é “transportar as pessoas para fora da realidade, onde elas, como por exemplo neste livro, tenham malmequeres soltos nos cabelos e os lábios molhados de paixão”.
Em suma, “malmequeres os lábios molhados” é um livro de alguém que precisa da poesia como do sangue a correr nas veias e que sugere às pessoas para se abstraírem dos autores que têm lido até agora e, que tentem ver um estilo de poesia mais contemporânea e mais actual. “Sobretudo quero que as pessoas tropecem nas minhas palavras e tenham vontade de as compreender mais profundamente”, deseja.
Cristina Correia Pinto
in O Tabuense


Comentários

Unknown disse…
Olá Cristina. Passei aqui pelo teu blog e não podia deixar de dizer que gostei muito do que li.
beijinhos, Zé Paiva
Gentes da Beira disse…
Olá Zé.
Muito obrigada.
Beijinhos

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