Mariazinha… uma estrela com 108 anos de vida

Aos 108 anos de vida, Maria da Costa Almeida, mais conhecida por Mariazinha, orgulha-se de ter um rosto mais liso do que algumas mulheres mais novas e, de até há bem pouco tempo fazer muito bem o arroz doce. Nascida a 29 de Setembro de 1899, em Candosa, no mesmo mês e ano que o poeta José Régio, diz que já não liga a quase nada do outro tempo e, conta-nos alguns segredos para uma vida longa.
A viver com a filha Irene Santos, de 77 anos de idade, Mariazinha foi sempre uma pessoa saudável. “Lá tinha uma coisita de vez em quando”, conta Irene revelando que a sua mãe nunca teve nada de preocupante, só aos 96 anos de idade, quando foi operada à vesícula. Hoje, queixa-se que lhe dói o braço e anda com a ajuda de uma bengala, desde que caiu há cerca de meio ano.

“Não se dançava o baile sem a Mariazinha lá ir”

Na sua infância andou na escola, na Lageosa (Oliveira do Hospital), onde tinha família, mas não chegou a aprender a ler. Esteve lá alguns meses por que era “muito brincalhona”, só anos mais tarde aprendeu a fazer o nome, que “fazia até há pouco tempo”.
Dos bailes que se realizavam em Candosa, em casa da dona Ilda, Mariazinha recorda-se que “dançava muito. Era muito brincalhona. Não se dançava o baile sem a Mariazinha lá ir. Tinha muitas amigas, costumava ir dormir a casa de uma”, quase sempre em dia de baile.
A história que mais a marcou durante a infância passa-se aos 10 anos de idade. “Era tão pequenina que uma vez os comediantes vieram aí e queriam-me roubar, queriam-me levar… era muito delgadinha”, lembra-se com um sorriso.
Aos 24 anos de idade casou-se, em Candosa, com José Macedo Santos, mais conhecido por José Ricardo. Viúva há 35 anos, trabalhou ao dia fora, sempre que possível ajudava o marido, que era alfaiate, e foi governanta durante mais de trinta anos da casa do Coronel de Infantaria Alfredo Correia Nobre, que também foi vice-presidente da Câmara Municipal de Tábua.
“Fazia de tudo na fazenda. Trabalhava na fazenda e, em casa e fazia um comerzinho muito bom. Uma sopinha com feijõezinhos. Nas festas fazia canjinha, galinha assada, umas batatinhas fritas. Fazia muito bem o arroz doce e, ainda hoje faço, mas agora já não posso tanto”, conta ao O Tabuense.
“Sabia costurar, fazia renda. Tem uma colcha linda de renda que fez à luz do candeeiro, não havia electricidade”, diz-nos Irene interrompida pela mãe que desabafa que “agora já não. Com 108 anos já não faço nada”.

“Sempre fui muito biqueirinha”

Mãe de 3 filhos, é com tristeza que lembra a morte de Alfredo, há 26 anos, com 70 anos de vida. Conhecido por Candosa, Alfredo foi militar da GNR em Oliveira do Hospital, Miranda do Corvo e Arganil.
Para melhor compreendermos tantos anos de vida diz-nos que a mãe morreu aos 92 anos de idade, no Brasil, e que o pai morreu novo com a pneumónica, também em terras de Vera Cruz. Quanto a idas à América do Sul para visitar a família, estas nunca se concretizaram por ter medo de andar de avião.
Se calhar o segredo para uma vida tão longa está no facto de Mariazinha nunca ter sido pessoa de comer muito. “Era muito biqueirinha”, afirma explicando que nunca comeu “essas comidas modernas, nem carne de vaca”.
Muito religiosa, até aos 96 anos, “não faltava a uma missa, nem a um terço”. Em 1917, ano das aparições de Fátima, a mulher mais velha do distrito de Coimbra, tinha 18 anos, e lembra-se de, na altura, ouvir falar nos Pastorinhos.
Sobre as novidades e os avanços tecnológicos, recorda-se de quando apareceu o primeiro carro e da televisão. “Antigamente era só carros de bois…Agora, toda a gente tem um carro. Não há ninguém que não tenha um carro”, sublinha. “Admirou-se quando apareceu a televisão, pensava que eles nos viam”, recorda Irene enquanto a mãe lhe corta a palavra para dizer que, “agora, não há ninguém que não tenha uma televisão”.
“Já nem gosto de ouvir televisão”, desabafa adiantando que gosta muito de Marco Paulo e de Quim Barreiros. “Cantam muito bem”, diz contente por ter um poster do Marco Paulo e, por ter 2 cd’s oferecidos pelo cantor em 2006.
“Agora já sou velha. Já não ligo a nada do outro tempo quase. Agora já não posso andar sozinha. Agora como poucochinho, como uma coisinha pouca e fico bem”, salienta.
Quando compara a juventude de hoje à de antigamente, diz que os “jovens agora são diferentes. Fazem tudo agora, às vezes, sem as mães quererem e, casam-se só por civil, juntam-se… antigamente não. Era tudo mais sério. Havia de tudo… agora a mocidade quando se fala na altura do namoro, logo se junta. É uma pouca vergonha. Agora não há respeito”, considera.
Desde os seus 96 anos de vida, há sempre festa no dia 29 de Setembro, e todos os anos os seus familiares e amigos “estão à espera” da data. “Este ano veio cá muita gente. Fez-se uma festa muito grande”, descreve feliz pelo carinho com que a tratam. Às dezenas de parabéns recebidos em dia de aniversário, junta-se o bolo oferecido pela Junta de Freguesia que costuma ser partilhado pelas objectivas dos fotógrafos e pelas câmaras de televisão, para darem vivo testemunho da idade de Mariazinha.
Para a filha e certamente para a restante família e amigos, Mariazinha “é uma estrela” e, “ainda hoje é muito bonita. É a cara mais linda de Candosa”, remata Irene Santos explicando que “é uma honra” ainda ter mãe e viver com ela.
Avó de 11 netos, tem 18 bisnetos, 4 trinetos e está à espera de uma trineta que nasce no próximo mês de Novembro. “Agora só estou pronta para quando Deus Nosso Senhor me queira levar para outro mundo”, termina segura e em jeito de confissão.

Cristina Correia Pinto
In O Tabuense e Jornal de Arganil

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