David Oliveira... um artista consagrado na medalhística
“Considero-me o melhor medalhista de Portugal. E sou”, garante-nos David Oliveira durante a visita guiada que nos fez à sua exposição permanente, na Casa da Cultura de Santa Comba Dão, onde se podem ver os cerca de 200 trabalhos que doou à Câmara Municipal.
Fotógrafo profissional, empresário de cinema, jogador de futebol, tesoureiro da caixa Geral de Depósitos de Santa Comba Dão, comerciante são, apenas, algumas das profissões que David Oliveira exerceu. Escusado seria perguntar qual delas lhe deu mais gosto, pois basta ver o seu espólio e, o modo como fala da arte para concluirmos que nenhuma delas lhe deu tanto gozo, como o facto de poder dominar a Arte.
Aos 84 anos de idade, fala-nos da Arte como quem ainda tem muito por descobrir e fazer. Artista consagrado na medalhística revela que o que lhe deu “fama” foi a colecção dos Pelourinhos, Câmara e Brasão. Contudo, as técnicas de óleo, aguarela, tinta da china, carvão e a magia de moldar o gesso, associadas à fotografia e à escultura fazem deste autodidacta uma figura marcante no seio da sociedade santacombadense.
“Muita gente me disse para sair daqui e ir para uma cidade, que ganharia muito dinheiro e fama”, conta-nos dizendo que nunca quis sair de Santa Comba Dão. “Para mim a minha terra é tudo, prefiro ser pobrezinho aqui do que rico fora”.
“O Salazar quis meter-me nas Belas Artes”
Conhecedor do seu talento, António de Oliveira Salazar tentou que o jovem artista tivesse outro rumo na vida. “O Salazar quis meter-me nas Belas Artes, dar-me uma bolsa de estudo e, depois soube que eu era contra a ditadura”, recorda deixando-nos adivinhar que perante o sucedido o governante não avançou com a proposta.
Curso este que, talvez, não viesse a servir de muito, para quem diz que já nasceu assim. “Nasci com esta intuição. Para mim a arte não tem segredos, não”. No entanto, o mais estranho de tudo é que o artista não se acredita que é ele quem faz as suas obras. “Nos trabalhos que estão em minha casa passo as horas a olhar para eles e a interrogar-me: Será que fui eu que fiz isto? Não acredito que seja eu que faça isto”.
“Estive na cama com a Amália Rodrigues”
Só com a primária, David Oliveira acrescenta que na sua família “não estava ninguém ligado à arte”. Realidade que não muda em nada o que sente pela arte.“Tenho muito amor a isto. Tenho o vício terrível de fumar, fora da arte. Estando a trabalhar na arte... é só a arte que conta, mais nada. A minha mulher chama-me quantas vezes para comer e, eu estou sempre agarrado àquilo. Gosto de ver as coisas feitas, pronto”,
Autor de diversos bustos, tais como o de Eusébio, Camões, Amália Rodrigues e de Sá Carneiro (colocado perto do Mercado Municipal, da cidade), David Oliveira partilha connosco que esteve na cama com Amália. “Estive na cama com a Amália Rodrigues. Fui-lhe mostrar o gesso para ver se ela aprovava. Ela aprovou. Mas, como estava na cama, mandou-me sentar ao lado dela. Eu sentei-me na cama ao lado dela, pois as cadeiras estavam ocupadas com roupa e, de maneira que posso dizer que estive na cama com a Amália”.
“Quando eu morrer cá fica o meu nome perpetuado”
“Fui marinheiro e tive a minha vida por fora. Fui ao Congo-Belga”, acrescenta, provavelmente, para compreendermos o porquê de alguns trabalhos.
Questionado sobre qual a sua melhor obra, não hesita e conduz-nos até às “Ninfas de Camões”, um trabalho feito em gesso.
Para além, destas vertentes David Oliveira foi correspondente de “O Primeiro de Janeiro” e é colaborador do semanário regionalista “Defesa da Beira”. Sobre os seus escritos, veio-nos à memória o que A. Matos escreveu aquando a exposição “Columb'arte 89”, realizada na residência do artista. “Quem se interesse pelo desenvolvimento da sua terra há muito. Quem lute por esse desenvolvimento há pouco. David Oliveira é desses.
Os seus escritos na imprensa diária e regional, a forma empolgada como exibe o seu bairrismo em público, os dissabores que teve ao lutar pela sua terra, os prejuízos materiais que suportou para beneficiar os seus concidadãos foram a sua forma de lutar. Foi e é essa luta que o distingue dos demais, concedendo-lhe o estatuto desejado por muitos, mas alcançado por poucos, ou seja, o de verdadeiro Bairrista e Cidadão de parte inteira do Concelho que o viu nascer”, concluiu.
Cristina Correia Pinto
in O Tabuense
Fotógrafo profissional, empresário de cinema, jogador de futebol, tesoureiro da caixa Geral de Depósitos de Santa Comba Dão, comerciante são, apenas, algumas das profissões que David Oliveira exerceu. Escusado seria perguntar qual delas lhe deu mais gosto, pois basta ver o seu espólio e, o modo como fala da arte para concluirmos que nenhuma delas lhe deu tanto gozo, como o facto de poder dominar a Arte.
Aos 84 anos de idade, fala-nos da Arte como quem ainda tem muito por descobrir e fazer. Artista consagrado na medalhística revela que o que lhe deu “fama” foi a colecção dos Pelourinhos, Câmara e Brasão. Contudo, as técnicas de óleo, aguarela, tinta da china, carvão e a magia de moldar o gesso, associadas à fotografia e à escultura fazem deste autodidacta uma figura marcante no seio da sociedade santacombadense.
“Muita gente me disse para sair daqui e ir para uma cidade, que ganharia muito dinheiro e fama”, conta-nos dizendo que nunca quis sair de Santa Comba Dão. “Para mim a minha terra é tudo, prefiro ser pobrezinho aqui do que rico fora”.
“O Salazar quis meter-me nas Belas Artes”
Conhecedor do seu talento, António de Oliveira Salazar tentou que o jovem artista tivesse outro rumo na vida. “O Salazar quis meter-me nas Belas Artes, dar-me uma bolsa de estudo e, depois soube que eu era contra a ditadura”, recorda deixando-nos adivinhar que perante o sucedido o governante não avançou com a proposta.
Curso este que, talvez, não viesse a servir de muito, para quem diz que já nasceu assim. “Nasci com esta intuição. Para mim a arte não tem segredos, não”. No entanto, o mais estranho de tudo é que o artista não se acredita que é ele quem faz as suas obras. “Nos trabalhos que estão em minha casa passo as horas a olhar para eles e a interrogar-me: Será que fui eu que fiz isto? Não acredito que seja eu que faça isto”.
“Estive na cama com a Amália Rodrigues”
Só com a primária, David Oliveira acrescenta que na sua família “não estava ninguém ligado à arte”. Realidade que não muda em nada o que sente pela arte.“Tenho muito amor a isto. Tenho o vício terrível de fumar, fora da arte. Estando a trabalhar na arte... é só a arte que conta, mais nada. A minha mulher chama-me quantas vezes para comer e, eu estou sempre agarrado àquilo. Gosto de ver as coisas feitas, pronto”,
Autor de diversos bustos, tais como o de Eusébio, Camões, Amália Rodrigues e de Sá Carneiro (colocado perto do Mercado Municipal, da cidade), David Oliveira partilha connosco que esteve na cama com Amália. “Estive na cama com a Amália Rodrigues. Fui-lhe mostrar o gesso para ver se ela aprovava. Ela aprovou. Mas, como estava na cama, mandou-me sentar ao lado dela. Eu sentei-me na cama ao lado dela, pois as cadeiras estavam ocupadas com roupa e, de maneira que posso dizer que estive na cama com a Amália”.
“Quando eu morrer cá fica o meu nome perpetuado”
“Fui marinheiro e tive a minha vida por fora. Fui ao Congo-Belga”, acrescenta, provavelmente, para compreendermos o porquê de alguns trabalhos.
Questionado sobre qual a sua melhor obra, não hesita e conduz-nos até às “Ninfas de Camões”, um trabalho feito em gesso.
Para além, destas vertentes David Oliveira foi correspondente de “O Primeiro de Janeiro” e é colaborador do semanário regionalista “Defesa da Beira”. Sobre os seus escritos, veio-nos à memória o que A. Matos escreveu aquando a exposição “Columb'arte 89”, realizada na residência do artista. “Quem se interesse pelo desenvolvimento da sua terra há muito. Quem lute por esse desenvolvimento há pouco. David Oliveira é desses.
Os seus escritos na imprensa diária e regional, a forma empolgada como exibe o seu bairrismo em público, os dissabores que teve ao lutar pela sua terra, os prejuízos materiais que suportou para beneficiar os seus concidadãos foram a sua forma de lutar. Foi e é essa luta que o distingue dos demais, concedendo-lhe o estatuto desejado por muitos, mas alcançado por poucos, ou seja, o de verdadeiro Bairrista e Cidadão de parte inteira do Concelho que o viu nascer”, concluiu.
Cristina Correia Pinto
in O Tabuense
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