“A Ponte Submersa” é “um memorial que é devido”

“Esta é a incrível história de um homem que destruiu a vida de três jovens cheias de sonhos promissores, arrastando no mesmo golpe a cidade que o viu nascer…”
In A Ponte Submersa


“A Ponte Submersa” é o mais recente trabalho de Manuel da Silva Ramos. Apresentado no auditório da Casa da Cultura de Santa Comba Dão, no passado sábado, 21, o romance é uma ficção que tem por base os malogrados acontecimentos que abalaram a cidade, no ano passado.
Apresentado por António Sousa Guedes, director da Voz do Dão, e por Fernando Paulouro Neves, director do Jornal do Fundão, o livro das Publicações Dom Quixote, segundo Luís Cunha, em representação da autarquia local, “é um momento forte na nossa terra” e, “é um memorial que é devido”.
Sousa Guedes considera a leitura do mesmo “bastante complicada, porque além de o ter vivido e, ainda viver este problema bem de perto e, como santacombadense que sou, não foi fácil a leitura”, sublinhou com um discurso pautado pela emoção.
Na sua opinião, o romance de Manuel da Silva Ramos “surpreende desde a primeira à última página. O romance é engenhoso quanto baste, para nos transmitir esta triste história que nós todos vivemos nesta cidade. É uma história contada em ficção, é uma história terrível, é uma história apimentada com descrições literárias imbuídas de liberdade de expressão, sem que o autor pretenda, de modo algum, ferir qualquer susceptibilidade, antes pelo contrário”, revela.
As personagens baseadas em pessoas reais que os santacombadenses tão bem conhecem, fazem desta obra “um belo romance” e “uma triste realidade”, acrescenta o director da Voz do Dão argumentando que Manuel da Silva Ramos, com A Ponte Submersa oferece ao leitor “um suspense cativante e que polariza todas as nossas atenções”.
A descrever os acontecimentos está “a chuva”. “Durante o livro, ela vai apresentando os acontecimentos”, desvenda Paulouro Neves enaltecendo a escrita de Manuel da Silva Ramos. “É uma escrita que eu considero muito cinematográfica”.
Do ponto de vista literário, para Paulouro Neves, o autor “agarra muito bem na história” e, entre outros aspectos, “chama a atenção para aquilo que é o suicídio da própria terra”, bem como “o egoísmo em relação às gerações futuras e à própria sobrevivência da humanidade, que é uma questão crucial do nosso tempo”.
Na obra é, ainda, apresentado “um roteiro de Santa Comba Dão”, onde o autor procura “dar à nossa cidade uma alma e uma vida, que nós estamos bem necessitados de voltar a recuperar – a paz, a harmonia e o sossego, da nossa terra Natal”, informa Sousa Guedes.
Outra questão baseia-se no papel do Estado, “a quem o António Costa serviu durante tantos anos. Ele põe na ferida a questão da formação da sua própria personalidade, por parte do Estado e, em que o Estado, segundo a opinião do autor, deverá ser co-responsável, também, no ressarcir das famílias, em termos de indemnização”. Porém, esta não é a única questão ponderada pelo autor. “É a questão do papel da Igreja em relação a este caso”, conta Sousa Guedes ressalvando que “as vítimas eram de religiões diferentes”.

As três jovens de sonhos promissores: “Uma tinha o sonho de se instalar em França; a outra, abraçar uma religião brasileira com a ânsia de ser feliz universalmente; e, a terceira andava às borboletas”
Manuel da Silva Ramos

Manuel da Silva Ramos explica que chamou ao serial killer, de Santa Comba Dão, “ Cabo Pá”, porque “era um homem de trato fácil com as pessoas, em geral, e porque a pá é um instrumento que está sempre a enterrar qualquer coisa. Neste caso, três jovens na flor da idade”.
“Hoje elas estão aqui miraculosamente ressuscitadas pelo poder da literatura, nunca mais serão esquecidas”, garantiu Silva Ramos explicando que “o papel do escritor é, de numa sociedade sem bússola, indicar o caminho, de dizer onde está o bem e o mal. Há um ano parei em Santa Comba Dão para almoçar e, na vossa cidade ouvi falar destes três crimes que viveram comigo durante 9 meses. Eu, também, nunca mais os esquecerei”.

“E, que nunca mais na vida Manuel da Silva Ramos tenha oportunidade de escrever um livro deste teor. Eu penso, que nem este nunca deveria ter sido escrito”
Sousa Guedes
Cristina Correia Pinto
in O Tabuense

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