Conny Kadia e o seu encontro com a música e cultura africana


Há dias deixámo-nos levar pela melodia dos djembés e dos doundouns e fomos parar à Quinta Mondega, na freguesia de Póvoa de Midões, no concelho de Tábua. Ali, no meio da natureza encontrámos Conny Kadia, uma mestre de djembé que nos recebeu para melhor percebermos o que leva uma alemã a apaixonar-se pela música e cultura africana e, a enraizar-se em Portugal.
Nascida na Alemanha, em 1965, Conny teve aulas de piano clássico, desde os 6 anos de idade, para além disso aprendeu órgão de igreja e, estudou na Universidade de Marburg, na Alemanha, as disciplinas de política e filosofia. Acrescenta que é autodidacta, no que concerne à música jazz, flauta transversal e saxofone.
Aos 28 anos encontrou-se com a música e cultura africana, através do djembé. “Com o acabamento dos estudos encontrei a cultura africana e, as pessoas puxaram-me para tocar djembé, não fui eu... porque foi estranho para mim também, mas as pessoas viam capacidades, nesta música. E, então ao final dos 20 anos eu comecei com isto e, lá fiz uma formação profunda com o mestre da Guiné (Mamady Keita), que viveu aqui na Europa... viajei pela Europa e, assim cheguei ao djembé”, conta.
Em Marburg, teve uma escola de djembé “La percussion”, a qual entregou a uma ex-aluna, para mudar de vida para Portugal. Aqui, dá aulas de djembé em Tábua (Quinta Mondega); na Junta de Freguesia de Tábua, onde tem construído a escola de “Música & Atelier de Artes em Tábua”, com aulas de instrumentos acústicos para crianças, jovens e adultos; Coimbra (Centro Formação Artes Jah Nasce); e, em Viseu no (IPJ).
Na Quinta Mondega, situada à beira do rio Mondego, Conny Kadia dá aulas semanais e, organiza workshops e fins-de-semana, uma vez por mês, com Open Session, na primeira sexta-feira do mês, no Bar Cultura Kapingbdi, em Tábua; também, organiza seminários internacionais de uma semana na Páscoa e no Verão, no mês de Agosto.
Quando compara os alunos portugueses com os do seu país, não tem dúvidas ao dizer que “aqui em 10 alunos tem 7 ou 8 que são mesmo muito bons e interessados. Na Alemanha, em 30 alunos tem 5 que são bons”.

Os portugueses e o djembé

Para Conny Kadia, os portugueses a tocar djembé têm “muito mais ritmo que as pessoas na alemanha”, aqui “as pessoas ainda vivem mais dentro da natureza, estão mais soltas”, defende revelando que o djembé “é um conjunto de natureza”, que resulta da combinação de uma árvore, pele de cabra e “das mãos humanas, que o tocam”, explica.
Apreciado por crianças e idosos, este é um instrumento que causa “fascinação, mas é, às vezes, um pouco brutal o djembé… ou as pessoas gostam, ou têm de fugir”, afirma Conny ensinando-nos que uma orquestra tradicional de djembé tem, em princípio, seis vozes e, que a dança é feita a solo ou em grupo.
Tradicional da África oeste, as músicas tocadas “contam a história de uma vida”, que Conny procura transmitir aos seus alunos e, a quem se cruza no seu caminho. “Eu ensino de forma a que as pessoas fiquem independentes. Quem está mesmo muito bom, passa nas minhas mãos três, quatro anos, depois faz a vida dele no djembé. Podem ficar professores. Tenho alguns alunos que hoje dão aulas”, informa orgulhosa dos seus pupilos.

“Encontrei este ninho... este pequeno paraíso, na procura de algo diferente da civilização alemã”

Em jeito de balanço, Conny Kadia declara que não esperava “ficar tão feliz. Porque às vezes é muito difícil e muito cansativo, uma visa construída de gostos e de capacidades… uma vida individual. Eu construí o meu próprio trabalho, mas fiz a mesma coisa na Alemanha. Isso é muito cansativo e muito difícil, mas também dá uma liberdade enorme. Uma pessoa está completamente livre”, sublinha elucidando-nos de que este é “um trabalho cultural, também é um trabalho de política e de filosofia. Eu vejo isto como um trabalho inteiro”.
Contente por ter feito esta decisão, “de deixar a Alemanha e estar aqui”, Conny Kadia revela que chegou ao concelho de Tábua “por causa da natureza. Quase sozinha, à procura de outras ideias, no final dos estudos”. Em relação à Quinta Mondega, faz-nos uma visita guiada à casa de campo, ao acampamento, ao rio, onde quem quiser pode nadar ou andar de canoa, mostra-nos os animais e, toda a natureza e música para umas “férias criativas”.
Nos tempos livres, gosta de usufruir da beleza da natureza – razão principal para a sua mudança de vida – e, de estudar “ansiosamente psicologia e a vida de Cavalos”. Em Setembro, deste ano, disse-nos que vai entrar numa formação sobre “Tratamento natural (sem violência) de Cavalos”, “A língua dos cavalos”, num centro de Insíno de Monty Roberst, no Alentejo.

Workshops e concertos

Na sua agenda tem marcado de 6 a 11 de Agosto, um workshop internacional, para iniciados, das 11 às 14 horas, e para médios das 15 às 18 horas, a ter lugar na Escola de Djembé & Doundoun Mondega, em Tábua.
Do seu currículo fazem parte o MC KIMBA Tama, “enjoy the rhythm”, 1996; CD KIMBA Tama, “secrets of mondega”, 1997; CD KIMBA nova, “afro-brazilian-power-percussiona”, 1999; e, CD KIMBA mondega, “one planet”, 1999. Conny Kadia é ainda autora dos livros Musophia I, Die Sprache der Trommel 1997 (“A lingua do tambor”); e, de Musophia II, Djembé pela Paz, que ainda será editado, provavelmente, este ano.
Conny Kadia participa em concertos com a Djembé Orchestra Mondega (alternativa com Dança Africana ou com animação de fogo) e com a Kimbanda (Escola de Djembé & Doundoun Mondega)
Cristina Correia Pinto
In O Tabuense

Comentários

Koka kola-te disse…
Olá Moça..
mas como chegou a saber do djembe e da Mestra?
tocamos djembe e dnuns no Brasil.
Gostariamos dos Contatos dela...
Abraços
Nãnan Matos
Gentes da Beira disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Gentes da Beira disse…
Olá Ñanan Matos

Foi o destino... era jornalista do jornal "O Tabuense" quando conheci a Conny e fiquei a gostar de djembe.

Tomo a liberdade de o convidar a visitar a página da Conny através deste link http://www.conny-kadia.cjb.net/

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