3.20.2016

Conscientes e Psicopatas

Apetece-me falar das pessoas que conheci, das que conheço e daquelas que desejo que tenham a verdadeiramente oportunidade de conhecer o seu EU.

Sinceramente e por mais dura que possa parecer, essas nem faço questão de as ter por perto, de ousar ouvir ou pronunciar o seu nome, por uma questão de respeito, acima de tudo por MIM e por elas próprias.

Se há algo que eu tentei entender, desde sempre, foi a mente humana, nomeadamente o que leva um Ser Humano a matar outro Ser Humano.

Aquele sentimento de compaixão: Oh coitado!
O que o motivou?
O que sentiu para?
O que sentiu quando?
O que sente agora?

Foram questões que dominaram grande parte da minha vida, no mínimo seis intensos e longos anos.

As respostas que ouvi:
- Não pode ter sido!
- É da família!
- Sempre nos acarinhou!
- Não foi capaz!
- Foi outra pessoa!
- Deve estar a ser ameaçado!

Mas a melhor de todas é: se matou, tinha um bom motivo!
- Claro que esta só pode ser dada por outro psicopata!

Atenção que não estou a falar de acidentes, estou a falar de casos bem estudados, premeditados, daqueles em que são brutalmente fascinantes em filmes! 

Não me refiro àqueles que deixamos que sejam projectados pela sétima arte nas nossas vidas, estou a falar de algo bem real, algo que entra todos os dias nas nossas vidas, nalguns casos via show media, noutros pela dor de alguém pelo qual temos um grande carinho.

Queria ser repórter de guerra, não para alimentar psicopatas mas para alertar os conscientes de que têm de agir, de fazer algo! 

É tramado a quantidade de crianças que deixam de o Ser por causa de um psicopata!
Acredito que só quem vive de perto um homicídio é capaz de entender onde quero chegar.
Não morre só o Ser que amamos, morre tudo!

Reconheço, na primeira pessoa, que não há justiça no mundo que nos devolva aquilo que nos roubaram. Aliás, não há nada!

A maior justiça é estarmos bem com a nossa Consciência.
Perdoar? Não sei se alguma vez se consegue chegar a esse acto na sua verdadeira essência.
E se perdoar é: a vida nos colocar frente a frente com tal actor e, sermos capazes de o olhar olhos nos olhos e, chorar de compaixão. 
Então já consegui... dar um passo de gigante, embora para sempre a cambalear!

Acredito que todo o Ser por mais psicopata que seja, um dia encontrará a sua Consciência!

3.16.2016

Adoro mesmo!


Adoro dialogar de mim para mim e, ouvir o grito de guerra do meu silêncio!
Adoro olhar-me olhos nos olhos e, libertar aquele sorriso que sai das profundezas da alma!
Adoro sentir a força do vento no rosto e, ter noção da insustentável leveza do meu ser!
Adoro o brilho de olhares transparentes e, a cor de  gargalhadas cúmplices!

Adoro ter estes rasgos de inspiração e, deixar-me guiar pela intuição!
Adoro ouvir música e, dançar ao meu próprio ritmo!
Adoro sentir o cheiro da terra molhada e, ver o sol reflectido na minha pele! 

Adoro viver e, deixar viver a criança que sou!
Adoro o cheiro da minha filha e, sentir que ela existe em mim!
Adoro não parar de chorar de alegria e, rir simultaneamente como uma louca!

Adoro a complexidade das coisas simples e, torná-las enigmáticas!
Adoro deitar-me no chão e, ficar tonta ao contemplar o céu estrelado!
Adoro tudo o que me faz respirar e, me devolve um suspiro de esperança!

Adoro caminhar com passos firmes e, voar de olhos fechados em contra-mão!
Adoro quando me norteiam e, me despertam de um sonho anestesiante!
Adoro reencontrar vida e, matar os meus fantasmas!
Adoro ter noção do quão distraída sou e, de ter capacidade para me focar!

Adoro não conseguir dizer tudo o que adoro, porque adoro tanto!
Adoro tanto... tudo... e todos os que me fazem e ensinam amar a vida!
Adoro que tenhas lido isto e, que também tenhas a sorte de Adorar VIVER!


8.12.2011

Está lá? Está bem?

“Estou bem”, responde o sr. Belmiro do outro lado da linha.
Sabe quem fala?
De facto, não foi fácil reconhecer, dado que só estivemos uma vez juntos e só foi efetuado hoje o primeiro telefonema. Depois de feito o reconhecimento, o sr Belmiro questionou acerca da nossa visita. Explicámos que qualquer dia iríamos visitá-lo novamente, mas que nos próximos tempos de quinze em quinze dias lhe iríamos telefonar.
Rapidamente questionou. “Sabe o que estava a fazer?”
Estava a ler? Questionámos contentes pelo desafio e pela forma como o primeiro telefonema estava a ser conduzido.
“Não! Estava a rezar pelos meus pais. Tenho o terço ao lado da cama e estava a rezar por alma deles”, explicou.
Ciente de como o encontro com Deus é importante para com os crentes, retorquimos se queria que lhe ligassemos mais tarde. Para nosso espanto, o sr. Belmiro disse que rezava mais tarde.
Começou a contar que a sua doença era de família, já o pai, os irmãos Manuel e Francisco padeciam do mesmo. “Na província matava muitos porcos”, desvenda tentando justificar desta forma a sua maleita.
Depois de vários pormenores e referências históricas, conta que o seu pai era Belmiro Santos. Conheceu a avó Rita Jesus. “Era a minha avó paterna. A única avó que conheci. Faleceu a 02 de novembro de 1939, foi o primeiro funeral que saiu de casa”, recorda.
“Foi-se deitar, estava cansada, a minha mãe foi fazer um café para lhe levar, quando chegou ao quarto, já tinha morrido”, acrescenta.
“Nunca vi na minha vida uma sogra e uma nora darem-se tão bem”, frisa para melhor percebermos a relação das duas mulheres que lhe marcaram a vida.
Salta a conversa e fala de estórias que compõem a história da sua família. Conta-nos que os pais o tratavam por “Mirito” e por “Serôdio”. “Mas sabe? Nunca tinha visto o meu pai nu. Aos 6 anos fui a banhos com ele ao rio Dão, com a Madalena e os dois irmãos”, lembra-se. “A Madalena casou lá, em Mangualde”, remata.
“Dizem que um homem não chora, mas chorei muito pela morte do meu pai. Fiquei órfão aos 9 anos de idade”, diz-nos entristecido.
Explica que viveu no tempo da II Grande Guerra Mundial. “Estava em Coimbra quando a guerra acabou”, desvenda levando-nos a viajar através do tempo pela vida de grandes figuras da história da humanidade. Fala de Winston Churchill, da Rainha Isabel II, de Hitler, de Putin, da Amália Rodrigues, de Cavaco Silva, entre outros.
Deu uma lição de apicultura, explicou que os lagartos não comem mel e partilhou connosco alguns dos métodos para produzir 300 litros de vinho. “Sabe uma coisa? Não bebo bebidas alcoólicas, só água”, frisou.
Hoje, ficámos a saber que o Sr. Belmiro fez a tropa em Viseu e que aos 21 anos veio para Lisboa, “ainda não havia metro, havia elétricos”.
“A minha mãe só veio uma vez a Lisboa. Fomos ao cabeleireiro da Amália Rodrigues. Disseram à minha mãe que tinha o cabelo mais bonito do que um cabeleireiro, pois era branco e com tons de azul claro. Olhe… igual ao meu”, realça.
Guiando-nos novamente ao passado fala do irmão Ramiro. “Batia-me, tinha inveja de mim. Era mais velho do que eu 3 anos. Os mais novos não se podiam defender, nem bater aos mais velhos”, justifica antes que lhe façamos alguma questão.
Quase na reta final do nosso telefonema, o telefone fica com ruído. Questionamos se está a tocar no fio do telefone. Refere que é o sobrinho que lhe está a ligar.
“Só mais uma coisa para terminar dou-lhe um beijinho na testa em sinal de respeito e sabe que deve ser a mulher a despedir-se primeiro do homem?”, questiona alertando-nos indiretamente para a gafe que cometemos.
“A Merkel, não sei se já reparou, mas ela nunca dá primeiro a mão a um homem”, exemplifica acrescentando que tem alguma simpatia pela chanceler alemã.
Estava mesmo no fim o nosso telefonema, despedimo-nos com um “obrigada” e do outro lado o sr. Belmiro, qual avô dedicado a ensinar aos seus netos, tudo o que sabe, na minha terra diz-se “bem-haja”, eu não fui “obrigado”.
Tem razão, foi um enorme prazer ter partilhado 45 minutos do nosso dia com uma pessoa tão rica e tão humilde.