Amor com amor se paga

"Por vezes, Deus vai pedir-lhe que desista do seu sonho para fazer parte do sonho de outra pessoa. É preciso coragem e humildade para o fazer. Mas repare bem nos resultados. Só o Céu saberá o impacto que teremos" (In A Palavra Para Hoje Primavera 11, 29 Jun Qua)


O Senhor Belmiro tem quase 85 anos de vida e está condenado a viver entre a cama e a cadeira de rodas, à semelhança de uma parte significativa da nossa sociedade.
A viver num 5º andar, sem elevador, em plena baixa lisboeta. Recebe o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Vive com um sobrinho com cerca de 50 anos.
Gosta muito de história, adora falar… no entanto, pouco ou quase nada ficámos a saber sobre a sua vida. Simplesmente ouvimo-lo a dizer fugazmente que foi polícia.
Amputado da perna esquerda. Tem diabetes, teve uma ferida que não sarava… mas não se lamenta.
A história antiga e a atual domina-a mais do que nós. Tem a 4.ª classe.
Da sua vida, sabemos que é o filho mais novo de 11. “A minha mãe teve 11 filhos, sou o mais novo, não conheci 4”, revela com saudade do tempo em que tinha os seus pais por perto.
Traiçoeiras, as lágrimas teimam em aparecer sempre que nos tenta contar algo mais sobre os seus pais que tanto amava. Recorda como se fosse hoje o dia em que o seu pai faleceu. Ficamos a perceber que tinham uma forte ligação.
“Era muito apegado aos pais. Ficou órfão aos 9 anos”, desvendou Mafalda Ferreira, assistente social do projeto Mais Proximidade, Melhor Vida.
Natural de Mangualde, não sabemos qual o seu percurso até chegar a Lisboa. Sabemos sim, que só sai de casa para ir a consultas médicas. Para tal necessita do apoio dos Bombeiros.
A desejar que chegue o mês de Agosto, conta-nos que, no dia 09 de Agosto, vai à rua. “Sabe o que vou fazer?”, questiona sorridente apontando para os dentes.
A sua casa sem vida, contrasta com o colorido da sua presença e com o seu antigo modo de vida. “Tinha muitos periquitos, flores e uma vida muito ativa. Há 3 anos que não sai de casa”, conta-nos Mafalda Ferreira.
Adepto do Benfica. “Sabe muito sobre desporto”, acrescenta a assistente social.
Intercetado durante o seu discurso, só responde ao que quer, talvez numa tentativa de evitar que se abordem determinados assuntos que não deseja, impulsionado por uma enorme necessidade de falar.
“Não têm pinturas. Estão ao natural”, reparou revelando que gosta de ver uma mulher sem pinturas, sem máscaras, talvez pelo seu subconsciente estar preso à necessidade constante de evitar falar sobre certas questões da sua vida.
Afável, bem-educado, cerimonioso, com uma enorme doçura na maneira de ser, aceitou falar connosco por telefone nos próximos seis meses, de quinze em quinze dias, no âmbito do Projeto Aurora, intitulado “Está lá? Está bem?”.
A quem se digna a fazer jus ao ditado “amor com amor se paga”, colocado estrategicamente na entrada de sua casa, dá um “bem-haja” sentido na humildade típica de quem não se apercebe do quanto ajuda os outros.
Cristão, católico e seguidor de valores tradicionais, é muito agradecido aos voluntários que o visitam e que lhe ligam para saber se “Está lá? Está bem?”.

Comentários

calbertoramos disse…
O acaso levou-me por este caminho, em busca de um texto sobre o dr. Alberto Martins de Carvalho.Porque me agradou a "viagem", voltarei - parabéns.
Carlos Ramos
Anónimo disse…
Bonito
Gentes da Beira disse…
Carlos.A.P.Ramos
Muito obrigada pela sua visita.
Sami disse…
Projecto Aurora, para ser um projecto interessante. Boa sorte xx
Gentes da Beira disse…
Sami,
Convido-a a visitar a página do projeto, onde estou a fazer voluntariado, julgo que vai gostar de dar uma olhadela http://maisproximidademelhorvida.com/projecto.html
Obrigada

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