Retratos da minha peregrinação

Numa altura em que a Fé está mais acesa do que nunca, saltam-me à memória vários flashes da minha caminhada até Fátima. Surge tudo, de forma breve, como fotografias tipo passe. Reconheço que esta é a melhor forma para, hoje, aproveitar o que aprendi aos 18 anos. Ou não fosse este formato de retrato o mais utilizado para tudo o que é legalmente importante e, porque também se arrumam e transportam mais facilmente.
Não é que a minha ida tenha sido um acto legal. Foi, talvez, uma aventura, um encontro, um tomar de consciência, o pagar de uma promessa, o concretizar de um sonho… não sei bem o que foi.
A única certeza que tenho, hoje, é que foi útil para saber a minha resistência física e psíquica. No fundo, para perceber melhor a grandeza dos tais pormenores da vida.
Confesso que sempre tive curiosidade em saber o que leva tanta gente a percorrer quilómetros com um único destino e vários propósitos. E como curiosa que sou também queria fazer o mesmo.
Quando dei por mim estava de ténis, fato de treino e com uma mochila às costas a caminho de Fátima. Enquanto peregrina lá ia a contar e a ouvir estórias, a meditar e a tentar encontrar uma explicação lógica sobre o que me levava ali para além de querer chegar a Fátima.
A meio do percurso apeteceu-me desistir devido às dores, que se apoderaram de mim. Só que algo me dizia para continuar e os peregrinos que iam comigo não o permitiram. Não é que me obrigassem. Simplesmente deram-me aquela força, aquele calmante para continuar.
Ainda bem que não desisti porque tive a sorte e a oportunidade de reparar na cumplicidade reinante. Desconhecidos rezavam a uma só voz, davam as mãos e encaminhavam quem fraquejava, adivinhavam e estavam lá naquele “ponto geodésico” para nos penetrarem com aquele olhar que jamais esquecerei.
Reflectida neste quadro e a admirar a cor das pinceladas que tão sábio pintor imortalizou na minha mente, tomo consciência de que vários Sábios Mestres cruzaram o meu caminho, em simultâneo, sem palavras, apenas e só com o poder de um sorriso e de um olhar.
- “Se conseguires chegar, a minha chegada vai ser muito melhor. Depende de ti, da forma como alimentas o teu físico e da vontade que tens para observar o que de pequeno existe” – (parte da mensagem que me foi revelada)
Com a mente perturbada, o coração batia forte ao ver peregrinos com sacos às costas, descalços, a pão e água… Questionei quem move esta gente: - Será que é preciso isto tudo? E, a resposta surgiu quando me lembrei que também tinha uma mochila às costas com um peso considerável, porque queria.
Agora sei que tudo acontece porque queremos. Como tal, um dia gostava de voltar a fazer o mesmo percurso e dar aquele apoio que tive.
Com ou sem promessa vale a pena caminharmos como peregrinos, independentemente do destino que queremos, uma vez que a chegada é única e compensa todo e qualquer sofrimento. Acabamos por nos sentir grandes com os pormenores e pequenos por termos fraquejado com a grandeza do facilitismo humano.
Faz parte de nós querer sempre mais, por isso é que a próxima caminhada, deste género, que gostava de fazer tem como destino Santiago de Compostela.
Até lá vou continuar a deambular e a trilhar os caminhos que vão surgindo em cada cruzamento e ouvir as estórias dos Sábios Mestres, para que o próximo percurso não seja tão doloroso e, seja aproveitado com o mesmo sorriso e esperança que me move.
Cristina Correia Pinto
13 Maio de 08

Comentários

JoaqCP disse…
Há percursos interessantes nos Caminhos de Santiago de Compostela e que, além do esforço físico que exigem (para quem os percorre a pé), também ajudam a conhecer o passado e a cultivar a mente...

Pesquisas possíveis:
http://www.romanico.com.pt/
http://ceg.fcsh.unl.pt/site/santiago5.asp

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