O Meu Pecado apresentado entre familiares e amigos

Quase duas décadas depois de ter sido alinhavado, Celeste Cortez apresentou O Meu Pecado. Um romance que esteve guardado na gaveta por falta de tempo, e que agora numa edição de autor veio a público, na passada sexta-feira, 7, na Biblioteca Municipal de Carregal do Sal.
Com origens em Carregal do Sal, Celeste Cortez foi muito jovem para África, onde teve o seu percurso de vida. Aos 19 anos era editora de uma revista feminina e só anos mais tarde, em 1989, depois de ir para África do Sul é que escreveu os três primeiros capítulos deste romance.
“Fiz o primeiro capítulo que hoje é o penúltimo e o último em 1989”, recorda explicando que no ano de 2003 encontrou o primeiro capítulo numa gaveta, considerando que esta seria a altura ideal para escrever para as suas netas, não pensando em “leitores”.
Hoje, O Meu Pecado é uma história de ficção, onde a autora fala “muito discretamente” de seu pai. “O seu nascimento foi no solar de Cabriz, portanto eu ponho-o ali em Alvarelhos a fazer uma coisa que realmente fez. Uma canção para o Rancho de Alvarelhos, que ele ensaiou”, desvenda frisando que “qualquer escritor transporta para o livro um bocadinho de si próprio, as suas vivências”.
Para os carregalenses, este romance “tem mais um doce incentivo, porque há personagens que existiram ou têm raízes neste concelho, fala de terras e gentes deste rincão beirão”, afirmou Hermínio da Cunha Marques, poeta, escritor e primo da autora.
Considerado pelo poeta e escritor um livro de “leitura fácil, que entusiasma e leva a que se devorem rapidamente as suas quatrocentas páginas, em busca de um desfecho que, como geralmente acontece nos romances, só chega no fim”. Neste romance a autora “convida as palavras a adquirirem sentidos, a gerirem emoções e com elas constrói o drama existencial da personagem feminina principal, relêem-se discursos, histórias, dramas de um teatro da vida a desvelar por vozes, tempos e espaços rememoráveis expostos de forma sucessiva e linear”, descreve Rosa Maurício, bibliotecária da Biblioteca Municipal de Carregal do Sal.
A acção passada entre Moçambique, Lisboa e Carregal do Sal narra a história de Ritinha, uma mulher que escolhe o caminho da fidelidade ao grande amor da sua vida. “Desse amor ela tem uma filha que, na altura, nos anos 60, foi difícil de criar por ser filha de pai incógnito. Na altura era um estigma, mas ela teve que ter força para educar, uma maneira especial para a proteger, porque ela não tinha pai, mas, também, uma maneira de moldar a sua personalidade, para que ela fosse capaz de se defender no futuro, numa sociedade que evolui”, conta Celeste Cortez.

“A autora, Celeste Cortez, apresenta-nos um trabalho excelente, bem concebido, com uma história comovente, que podia ser real no tempo da Guerra Colonial”

Hermínio Marques

Através do romance a autora pretende passar “acima de tudo uma mensagem de amor e de paz”, no sentido de as pessoas não intervirem na vida de outrem, “porque este amor não foi possível ser partilhado durante uma vida, precisamente porque alguém se interpôs”.
Tido como um filho, na medida em que “levou 9 meses a passar a limpo”, Celeste Cortez garante que “se tiver oportunidade com certeza” que vai tentar aproveitar ao máximo este desejo latente dentro de si para continuar a escrever. “Tenho outro quase acabado e espero que seja ainda melhor que este”, adianta.
Para já recorda-nos que em 1970 fez um romance que deixou dentro de uma caixa de sapatos, em Moçambique. “Escrevi num autocarro durante 15 dias entre Portugal, Espanha e França, numas férias. Era uma estrutura, uma iniciação em cada capítulo, mas não vou dizer que se comparava a este ou que tinha 400 páginas”.

“E se, com a vossa leitura, nele virem mais do que aquilo que aqui foi e vai ser dito, lembrem-se que, à luz do filósofo alemão Karl Popper, nunca saberemos o suficiente para podermos ser intolerantes”

Rosa Maurício


No uso da palavra, Maria Alice Reis, professora primária, da autora explicou o significado das três rosas vermelhas que ofereceu, pois quando conheceu Celeste Cortez esta era “um botão em flor pouco aberto, depois desabrochou, até que chegou ao topo daquilo que sabemos hoje”.
Em representação da autarquia local esteve o vereador da cultura, Óscar Paiva que rotulou o lançamento do livro como “um acto de coragem”, apesar de a Câmara Municipal não ter dado apoio. O que é certo é que as palavras do vereador da cultura enalteceram que “temos uma cultura viva, pujante e que se quer continuar a afirmar”.
O Meu Pecado está à venda nas Beiras em algumas papelarias de Carregal do Sal, Santa Comba Dão, Nelas, Mangualde, Tondela, Viseu e Figueira da Foz. A partir do dia 13 de Outubro poderá ser adquirido noutros pontos do país, nomeadamente em Lisboa, após o lançamento no Centro Cultural de Cascais.
Entretanto, Hermínio da Cunha Marques assegura que se Celeste Cortez “não nos brindar com outras publicações, então será forçada a dizer «este é verdadeiramente O Meu Pecado!...»”.

Cristina Correia Pinto

in O Tabuense

Comentários

XMaria disse…
Olá Cristina!

Devo dizer que fiquei muito contente por te encontrar num blog tão inspirador :)

Aproveito para te deixar um grande beijinho. Espero que continues a escrever assim!!

Abraço. Angela (colega do curso de C.S.)
;)
Gentes da Beira disse…
Olá Angela ;D

Muito obrigada pelas tuas palavras e pelo teu incentivo.

Espero que voltes mais vezes e, que a vida dos Sábios Mestres nos inspire sempre a fazer mais e melhor.

Foi um prazer voltar a reencontrar-te.

Beijinhos

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